Texto de Alisson Gutemberg
A distopia é um fenômeno urbano. E, de modo geral, trata-se de uma noção que refere-se a um olhar pessimista para o presente e/ou para o futuro. Diferentemente da anti-utopia, no entanto, a distopia não parte do projeto utópico. Ela, a distopia, sempre mantém uma visão negativa; pois, em seu horizonte, não há ilusão acerca de qualquer perspectiva utópica. Mas, sim, um pessimismo próprio e constante.
Quanto a isso, ao enfatizar a representação da metrópole como um espaço violento, Lúcia Nagib, por exemplo, em A utopia no cinema brasileiro, discorre sobre o caráter distópico da narrativa de O Invasor (Beto Brant). Uma análise, nesse caso, que, a meu ver, também pode ser estendida para filmes como Las Tetas de Mi Madre (Carlos Zapata). _
Basicamente, a obra de Carlos Zapata narra a trajetória de Martin, uma criança de 10 anos que sonha em conhecer a Disney. E, para isso, trabalha como entregador de pizzas. Em uma noite, no entanto, após fazer a entrega em um bordel, ele adentra, por engano, em uma cabine de strip tease, e, pela primeira vez, vê uma mulher nua. No dia seguinte retorna ao bordel; mas, dessa vez, descobre que é a sua mãe do outro lado do vidro.
A Bogotá de Las Tetas de Mi Madre, tal qual a São Paulo de O Invasor, é um espaço onde as utopias são trituradas pela realidade cotidiana. Por exemplo: ao representar uma cidade marcada pela miséria, pela desigualdade social e pela violência, ao mesmo tempo, Zapata aborda o esfacelamento da inocência infantil. Por isso, Cacharro é outro personagem importante. Trata-se de um colega de escola de Martin, uma outra criança que, nesse caso, vive em um universo corrompido pelo tráfico de drogas e pela violência urbana.
Ao longo da narrativa, os dois são absorvidos por uma realidade de miséria que atravessa o cotidiano urbano, e, que, ao mesmo tempo, molda o olhar pessimista do autor. Cacharro acaba morto e Martin torna-se um assassino. A Bogotá de Las Tetas de Mi Madre, desse modo, ainda que seus personagens tenham algum tipo de esperança, é uma metrópole corrompida, degradada, que aprisiona o ser e destrói os seus sonhos. É uma urbe distópica.
Fonte imagem: Las tetas de mi madre (Carlos Zapata)
Referência:
A utopia no cinema brasileiro - Lúcia Nagib (https://amzn.to/37pDoS0)
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