Texto de Alisson Gutemberg

Tem gente que gosta de dirigir, tem quem goste de dançar, tem até quem goste de malhar. Eu, por outro lado, gosto de escrever. Gosto de juntar as palavras, "tijolo por tijolo num desenho mágico", lógico, e observar como elas criam sentido, significado. Não é que não goste de outras coisas, mas, entre tudo aquilo que gosto, o meu preferido é escrever. E, particularmente, escrever sobre cinema.


Gosto de observar os filmes, de analisar seus elementos, suas cores, músicas e até dores. E, nesses dias estranhos, nada melhor que a sua companhia. Em certo sentido, tenho me sentido um pouco como Cecília, de A Rosa Púrpura do Cairo, ao buscar em filmes um refúgio.


Para isso, o cinema brasileiro tem sido um ótimo companheiro . Entre um filme e outro, por exemplo, me lembrei de Estômago. Que sempre irá figurar entre os meus preferidos.


Ora, Estômago tem todos os elementos de uma grande obra: 1) uma trilha sonora primorosa, que é lúdica, minimalista. Me lembra um pouco a trilha de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain; 2) tem um personagem marcante, que mistura inocência e crueldade, que é Nonato; e, além disso, 3) tem uma direção esplêndida. Percebida, por exemplo, na montagem que, de maneira muito bem feita, brinca com a linearidade temporal; e, do mesmo modo, em movimentos de câmera que remetem a Hitchcock: como na sequência do assassinato que me lembra uma cena de Frenesi, mas que ocorre em sentido oposto.


Poderia ficar o dia inteiro destacando os predicados de Estômago, mas, o som de Chico na vitrola me recorda de deixar o celular de lado. Antes, porém, me diz: "não se afobe não que nada é pra já"


Fonte imagem: Estômago (Marcos Jorge)

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