Texto de Alisson Gutemberg


Toda atividade de crítica reflete uma experiência estética. Logo, por seu caráter estético, trata-se de uma experiência individual. A experiência estética é o entendimento que ocorre na relação entre indivíduo e obra. É uma operação dialética, no sentido hegeliano; pois, da relação entre tese (a obra e suas ideias) e antítese (impressões do receptor que antecedem a experiência) nasce a síntese (entendimento obtido da relação entre os dois primeiros). Do mesmo modo, o produto da crítica, que, como deve ser, obedece a escala trifásica de Pierce (primeiridade, secundidade e terceiridade), sempre será um signo.


De maneira geral, toda experiência estética requer uma memória cultural, intelectual, que seja capaz de desvendar os códigos de uma obra qualquer: um filme, uma música, um livro etc. Como essa memória cultural é diferente em cada individual, a experiência estética só pode ser uma experiência única.


O que ocorre é que, na maioria dos casos, o indivíduo que se coloca como crítico tem um repertório simbólico maior que a maioria das pessoas. E, por isso, consegue estabelecer uma quantidade maior de relações. É preciso, no entanto, que essas relações tenham sentido. Umberto Eco, por exemplo, fala sobre isso em A Obra Aberta. Por outro lado, isso não significa que o crítico está sempre correto. Não é disso que se trata.

Na atividade de crítica não há certo nem errado. Há experiências diferentes. É por isso que, aqui, não comento sobre filmes que não gosto. A experiência do outro é sempre diferente da minha. E o crítico não tem o direito de dizer: não veja! Não é esse o seu papel. Seu papel é estabelecer conexões entre obras, reconhecer referências etc., para, assim, tornar a experiência do outro mais agradável. Do mesmo modo, não classifico os filmes com notas ou algo do tipo.


Fonte imagem: DN.pt


Referências:

Estética da comunicação: da consciência comunicativa ao "eu" digital - Luís Mauro Sá Martino (https://amzn.to/30aWDNz)

As formas do sentido - Monclar Valverde (Org) (https://amzn.to/2Y2wNbM)

Estética da comunicação - Monclar Valverde (https://amzn.to/2XDHDpz)

Semiótica - Charles Pierce (https://amzn.to/2XJtYgQ)

Trabalho e dialética: Hegel, Marx e a teoria social do devir (https://amzn.to/2AhWehH)

A obra aberta - Umberto Eco (https://amzn.to/30nYajd)

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