Texto de Alisson Gutemberg

A ideia de uma teoria da midiatização trata de um contexto em que real e virtual se misturam e produzem um todo alterado. Ao mesmo tempo, essa simbiose configura um novo modo de vida: o bios midiático (Sodré). Onde o real não se dá na mesma ordem da realidade das coisas, mas, sim, em uma esfera em que o virtual também se torna um componente verossímil. A ideia de um bios midiático, nesse caso, é uma referência a Aristóteles que, em seu trabalho, apontava três bios: o do conhecimento, o do prazer e o da política.

Nesse novo bios, a tecnologia torna-se o elemento básico de diferentes formas de interação, e, ao mesmo tempo, transforma a percepção da realidade ao fazer emergir uma nova vida tecno-social. De modo concomitante, a tendência à virtualização desenvolve ambientes virtuais que tornam acessíveis outros mundos e outras formas de sociabilidade. Uma reorganização particular da vida que se configura como uma nova presença do ser no mundo; ou seja, uma reestruturação da vivência, por exemplo, que afeta o próprio Dasein, no sentido heideggeriano, ao proporcionar um modo de vida distinto, onde, em muitos casos, dentro do universo do ciberespaço, a lógica midiática altera as práticas sociais do sujeito ao tornar o próprio corpo, o próprio cotidiano, um vetor midiatizado.

Do mesmo modo, advindas da tecnologia, na sociedade midiatizada, as tecnointerações reconfiguram a sociabilidade, e, ao mesmo tempo, transformam o estatuto dos meios que deixam de ser apenas mediadores e se convertem numa complexidade maior, uma matriz fundada em novas racionalidades. Um contexto que coaduna com o enredo do filme Ela (Spike Jonze), por exemplo, que, basicamente, aborda a história de um homem (Theodore) que se apaixona por um sistema operacional. A obra, desse modo, retrata as novas possibilidades de interação, as tecnointerações, em uma sociedade que tende cada vez mais ao virtual.

O filme de Spike Jonze, nesse caso, não é apenas sobre solidão. Ainda que essa condição seja o elemento que leva Theodore a se apaixonar por Samantha, por exemplo. É também sobre as novas formas de vida proporcionadas pelo avanço tecnológico. É sobre a relação complexa entre real e virtual. Elementos que, no contexto da midiatização, se misturam e produzem uma nova realidade e um novo modo de vida: o bios midiático (Sodré). Um modo de vida que agrega elementos pós-humanos (Santaella) e que se configura pela possibilidade de hibridização, interação, entre homem e máquina.

Fonte imagem: Ela (Spike Jonze)


Referências:

Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede - Muniz Sodré (https://amzn.to/37oihPZ)

Ser e tempo - Martin Heidegger (https://amzn.to/3hjbQSR)

Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura - Lúcia Santaella (https://amzn.to/37spvlY)




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