Mouchette e a questão do estilo no cinema

Texto de Alisson Gutemberg

De acordo com Aumont, a encenação dos atores é um dos aspectos que liga o cinema ao teatro. É também um dos pontos que orienta as discussões acerca do estilo cinematográfico. Ora, quem nunca se perguntou: o que diferencia um diretor do outro? Ou, até mesmo, como é possível reconhecer o autor de um filme?

Há, e isso é evidente, aspectos que, somados, identificam o autor de uma obra. Mas, no cinema, quais seriam esses aspectos? É justamente isso que se discute quando fala-se em estilo no cinema. A noção de estilo, nesse caso, refere-se justamente à assinatura do filme; às marcas autorais, como ocorre na literatura, que "denunciam", revelam, o seu diretor.

Para Bordwell, por exemplo, é na mise-en-scène que o estilo se materializa: é pelo teor dramático, pela maneira como se constrói as cenas, que se revela as características marcantes de cada diretor. Sendo a mise-en-scène, nesse caso, tudo aquilo que aparece no enquadramento: encenação dos atores, iluminação, decoração, adereços, figurino etc. Trata-se, basicamente, do modo de posicionar a cena, ou seja, os efeitos de luz, enquadramentos da câmera, entonação de voz, gestos e movimentos no cenário, por exemplo.

E, toda vez que a discussão do estilo me aparece, ainda que recorde de uma dezena de exemplos, lembro-me de Robert Bresson. A sua filmografia é um prato cheio para orientar a discussão: em seus filmes, a busca por uma atmosfera minimalista reduz ao mínimo o número de elementos expressivos. Tomemos Mouchette, um filme de 1967, como exemplo. Na obra, os atores são marcados por uma encenação dura, seca. Uma encenação que provoca desconforto pela ausência de dramatização. A mise-en-scène se baliza por esse traço. E a forma como os personagens se relacionam com a câmera demarca um estilo próprio, incomum. Um estilo que perpassa por outros filmes e que revela a ausência de elementos expressivos. E é justamente esse aspecto - materializado em enquadramentos que desvendam apenas o necessário - que caracteriza um filme de Bresson.

E você, como reconhece uma obra de seu diretor favorito? Eis um ótimo exercício cinéfilo.

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