Texto de Alisson Gutemberg


Além da função de entreter, as imagens cinematográficas também alimentam os imaginários. Produzem significados, sentidos, acerca de espaços, pessoas, ideias etc. Ao mesmo tempo, esse caráter imagético altera a nossa realidade. Por exemplo: em muitos casos, conhecemos determinadas cidades, primeiro, pelas lentes do cinema. A experiência imagética é anterior. E quando ela se junta a uma vivência concreta, há, nesse caso, uma simbiose.

Desse modo, através das imagens projetadas por meio de equipamentos eletrônicos de comunicação, como ocorre com os filmes, é possível o armazenamento de vivências e lembranças que não foram vivenciadas in loco, mas, que, ainda assim, passam a constituir o capital mnemônico-cognitivo de quem absorve essas imagens e conteúdos. Haja vista que, queira-se ou não, formas simbólicas são apropriadas por espectadores e usuários das diversas linguagens de mídia.

A Literatura, no entanto, não faz o mesmo? E a música? Como não reconhecer, por exemplo, a Paris do século XIX de Émile Zola, a Londres de Charles Dickens e a São Petersburgo de Fiódor Dostoiévski? Como não estabelecer sentidos para Nova Iorque ao ouvir New York, New York na voz de Frank Sinatra? É verdade. Música e literatura fazem o mesmo. Ainda assim, contudo, o cinema tem dois elementos que colocam a sua experiência em um patamar privilegiado: 1) a imagem em movimento e 2) a profundidade de campo. Aspectos que elevam a imagem cinematográfica a uma experiência semelhante à forma com que a nossa visão capta o mundo. Os materiais de expressão do meio, nesse caso, são a causa de uma relação privilegiada entre cinema e imaginário. É por isso que, para Edgar Morin, por exemplo, o cinema é a máquina mãe geradora de imaginários.

Ainda assim, no entanto, existe uma grande diferença entre o mundo concreto e o universo cinematográfico – o primeiro é o real sem o filtro da interpretação (ou com uma interpretação própria, singular, do ser que vivencia); o segundo, por sua vez, assim como o mundo da TV, o da literatura, e até mesmo o do jornalismo, por exemplo, por mais real que pareça, ou que "deva ser", não passa de um olhar filtrado. É uma interpretação.


Fonte da imagem: Viagem à lua (Georges Méliès)


Referências:



O paraíso das damas - Émile Zola (https://amzn.to/37jNyn7)

Tempos difíceis - Charles Dickens (https://amzn.to/3hhwgLY)

Crime e castigo - Fiódor Dostoiévski (https://amzn.to/37lwnkY)

O cinema ou o homem imaginário (https://amzn.to/2BQC5zC)

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